A Vila Serra do Navio foi idealizada em 1955 no Brasil, em
plena floresta amazônica, como Company Town da "Indústria
e Comércio de Minério S.A" (ICOMI). O complexo de exploração de manganês previu
equipamentos industriais, residenciais, administrativos, educacionais, de saúde
e de lazer, com projeto moderno do arquiteto Osvaldo Bratke, e de mobilidade
(rodovia, linha férrea e porto), que viabilizariam a prospecção e o escoamento
do minério. A Vila, inaugurada em 1960, permaneceu até 1992 como cidade fechada
sob a gestão privada da ICOMI, que encerrou as atividades no território por
esgotamento do manganês no ano de 1997. A transferência da posse dos ativos
gerou uma lacuna de responsabilidades entre os três níveis da administração
pública (Município, Estado e União Federal), atenuada com a instituição do
tombamento da vila pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
em 2012 com inscrição nos Livros do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico;
Histórico e das Belas Artes. Objetiva-se, de modo específico, analisar o
processo de patrimonialização desse bem cultural a partir dos conceitos que
fundamentaram o reconhecimento de valores, a consequente proteção e seus
rebatimentos (ou não) nas práticasde
conservação urbana. A rerratificação do tombamento, em 2018, é resultante de
uma revisão de postura institucional diante de um quadro de conflitos
provenientes da oposição ao tombamento pelos novos moradores; do surgimento de
novas áreas urbanas de expansão, da perda material do acervo e do declínio
econômico com a inatividade da mineração. No campo dos experimentos institucionais,
o tombamento de um conjunto urbano moderno na Amazônia representa, assim, a
ampliação do acervo preservado com linguagens arquitetônicas e urbanísticas
características do século XX, a expansão da rede de proteção para uma região
tão simbólica do Brasil, bem como, a revisão de pressupostos práticos ao
fomentar a regularização fundiária como estratégia de atuação. A partir de
estudo atento ao acervo documental e às dinâmicas compreendidas à luz dos
contextos contemporâneos defende-se a tese de que ressignificar valoração em um
contexto patrimonial cuja origem é minerária e todas as expectativas de
desenvolvimento ainda se firmam na exploração natural, passa necessariamente pela
consideração de outras abordagens. Em uma analogia à exploração minerária,
busca-se inserir a categoria do patrimônio industrial, do saber técnico e da
própria noção de rejeitonegligenciados
no processo de valoração. A paisagem de mineração é considerada em uma dimensão
que transcende a ideia de invólucro (a floresta amazônica) ou de locus de
implantação de uma "obra de arte" alcançando uma categoria analítica mais ampla
que a considere comobem
a ser interpretado, compreendido em sua gênese e, portanto, valorado.
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JULIANELLI, Anna Rachel Baracho Eduardo. Limites e desafios da preservação de conjuntos urbanos modernos no Brasil - Vila Serra do Navio-AP (1955-2018). 2019. 324. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2019. Orientador: José Simões de Belmont Pessôa
Componentes: Anna Rachel Baracho Eduardo Julianelli
Período: 2019
Resumo: