A errática história dos trabalhos da Comissão Científica de Exploração enviada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro à Província do Ceará entre 1859 e 1861 é ilustrativa, dentre muitas coisas, das maneiras como se leram os esforços de combate às secas desde meados do século XIX. Marcada sobremaneira pelo mapeamento e pelas discussões sobre as implicações sócio-econômicas e, principalmente, sobre os usos político-eleitoreiros do fenômeno climático secular, a importante literatura sobre o tema acabou obscurecendo a discussão técnica que se estruturou desde então.
Ridicularizada, apodada de maneira pejorativa, encerrada antes dos términos dos trabalhos de campo, ainda assim a Comissão Científica, liderada pelo médico e botânico Francisco Freire Allemão, produziu importantes levantamentos, reflexões e propostas, que seriam recuperadas depois, por ocasião das sessões do Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, em outubro de 1877, organizadas para discutir a melhor forma de enfrentar um novo ciclo de duras secas que então se iniciava. As propostas do matemático e professor da Academia da Marinha Giacomo Raja Gabaglia, chefe da seção astronômica e geográfica da Comissão, seriam retomadas pelo engenheiro André Rebouças, e.g., para pensar soluções abrangentes para o problema das secas, a partir de uma perspectiva de construção e transformação do território da Nação.
Assim, pretendemos estabelecer uma narrativa historiográfica que aborde as secas com mote para compreender e discutir a formação de uma cultura técnica no Brasil, suas referências, matrizes, condicionantes, seu estar-em-ação. Interessa aqui, sim e especificamente, discutir um aspecto fundamental do processo de construção dessa dimensão técnica: as propostas e ações para estruturação e delimitação do território das secas.
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