DANTAS, George Alexandre Ferreira; AZEVEDO, Ana Beatriz Targino Campos de; DIAS, Julia Andreza da Silva. A Ribeira "Systematizada": análise das transformações da forma urbana da cidade baixa de Natal (1868-1945). In: VIII Conferência PNUM, 2019, Maringá. PNUM 2019. Forma Urbana e Natureza. Maringá: Programa Associado UEM/UEL de Pós-Grad. em Arq e Urb, 2019. v. 1. p. 636-651.

Componentes: George Alexandre Ferreira Dantas Ana Beatriz Targino Campos de Azevedo Julia Andreza da Silva Dias
Resumo:

O Plano Geral de Sistematização, elaborado pelo arquiteto Giacomo Palumbo, entre 1929 e 1930, durante a gestão do prefeito e engenheiro Omar O'Grady, foi um importante ponto de inflexão nos debates e no processo de modernização urbana de Natal nas primeiras décadas do século XX. Articulou várias ações e planos anteriores, a partir da lógica de um "master plan", prevendo áreas de expansão, novos bairros e reorganização territorial dos dois bairros originais: a Cidade Alta e a Ribeira (o bairro portuário e comercial, a cidade baixa). Contudo, o que ficou do Plano? O que foi realizado? Além da criação de uma segunda ligação entre os dois bairros (com o prolongamento da avenida Rio Branco), da construção de parte do boulevard de contorno e o desenho urbano de canteiros e calçadas arborizadas para a Cidade Nova (os bairros de Petrópolis e Tirol), realizados nos anos seguintes, as propostas de reforma para a Ribeira (com demolições, retificações e expansões) foram as mais ambiciosas concretizadas. O objetivo deste artigo é analisar as transformações na forma e paisagem urbanas por que a Ribeira passou a partir do Plano Geral de Palumbo. Considerando as poucas peças gráficas restantes do plano, assim como a escassa iconografia e documentação dos arquivos de Natal, buscamos, por meio de uma metodologia de análise gráfica, reconstruir o processo de transformação do bairro da Ribeira. Para tanto, cruzamos os fragmentos cartográficos do final do século XIX, os levantamentos topográficos, cartas de aforamento, os contratos e matérias jornalísticas, as fotografias, com a historiografia urbana e urbanística mais recente, buscando compreender o que permaneceu da estrutura morfológica dos séculos anteriores e o que foi alterado a partir do Plano. Assim, analisamos inicialmente o ciclo de transformações importantes que foram articuladas entre, grosso modo, 1870 e 1920, a partir da abertura de linhas férreas, instalação de pátios ferroviários e obras do porto, comparando os levantamentos técnicos mais pontuais ao esquema gráfico da cidade presente no Atlas do Império do Brasil (1868). Depois, analisamos a cidade documentada nos anos 1920, comparando dados demográfico-sanitários, fotografias e memórias ao primeiro grande e extensivo levantamento topográfico-cadastral de Natal, realizado pelo engenheiro Henrique de Novas em 1924. Essa base é fundamental para entender o alcance das reformas propostas pelo master plan de Giacomo Palumbo, como se discute na terceira parte. Por fim, comparamos e discutimos a cidade resultante, à luz do levantamento do Serviço Geográfico do Exército, de 1945. Esse conjunto gráfico antigo foi normalizado e balizado (com aproximações georreferenciadas, corrigindo dentro do possível as distorções dos mapas históricos) pelo levantamento aerofotogramétrico mais recente e digitalizado, de 2006. Dessa forma, a análise gráfica detalhada, cruzando fontes históricas diversas a partir da leitura e problematização das peças cartográficas, permitiu assim entender o processo de construção da histórica cidade baixa (hoje quase toda abrangida pela poligonal de tombamento do IPHAN/RN). Impulsionada pelo comércio e atividades portuárias desde o século XVIII, a configuração da forma e paisagem urbanas da Ribeira "systematizada" é antes de mais um resultado das ações urbanísticas do século XX.


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