NOBRE, Paulo José Lisboa. Entre o cartão postal e a cidade real: um estudo sobre a paisagem e produção imobiliária em Natal/RN. 2001. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2001. Orientador: Angela Lúcia Ferreira

Período: 2001
Resumo:

Estudos recentes acerca da paisagem investigam as atividades impactantes que contribuem para a sua modificação e buscam melhor compreender a sociedade através das marcas do cotidiano nela impressas. Entende-se que paisagens singulares se constituem em patrimônios culturais das cidades, na medida em que fazem parte do cotidiano dos cidadãos e estão presentes nas representações sociais. Alguns autores contemporâneos defendem a preservação da paisagem natural e urbana buscando, acima de tudo, sua importância para os habitantes do lugar. Natal é uma cidade com qualidades ambientais marcantes e se destaca pela beleza do sítio onde está assentada. Encravada num encontro de rio e mar, a cidade se desenvolveu tomando a forma determinada pelo suporte físico. O Rio Potengi, o Oceano Atlântico e o vasto ecossistema dunar existente representaram limites à expansão urbana, ao mesmo tempo em que possibilitaram a configuração de uma paisagem marcada pela dialética entre os elementos naturais e os construtos humanos. Porém, essa relação começou a mudar com a intensificação do processo de verticalização, em curso na cidade desde os anos 1960. A legislação urbanística procurou preservar as características da paisagem local instituindo Áreas de Controle de Gabarito, destinadas a proteger o valor cênico-paisagístico de alguns trechos da cidade. Em contrapartida, o setor da construção civil tem exercido constante pressão no sentido de abolir ou modificar esse instrumento legal, visando lucros que foram potencializados, nos anos 1990, pelo consumo e qualificação do espaço urbano para as atividades turísticas. É preciso que surjam novos elementos para reforçar a discussão sobre a preservação da paisagem, no processo de produção do espaço urbano e nas formas de implementação da legislação. Este trabalho tenta levantar elementos sobre o tema ao nível local, no sentido de que a experiência de Natal e seu estudo de caso possam contribuir para formular indicativos capazes de questionar a não mensuração de valores subjetivos, como por exemplo o valor cultural e afetivo da paisagem. Os elementos naturais, hoje inseridos na malha urbana, representam fortes referências visuais, fornecem identidade ao tecido urbano, fazem parte do imaginário coletivo e se destacam no contexto social da cidade. Por que, então, a preservação da paisagem, que pressupõe o aumento da qualidade de vida, não é razão suficiente para justificar o controle de gabarito previsto no Plano Diretor de Natal? Esta questão remete ao enfoque da paisagem como patrimônio coletivo, alertando que alguns atributos estéticos e paisagísticos, carregados de significados, devem ser preservados como um legado para as gerações futuras. 

Acesso completo em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/12433